sexta-feira, 29 de outubro de 2010

CONCEPÇÃO DE "ALMA" PARA PLATÃO E ARISTÓTELES

I – Concepção de alma (para Platão): Ele concebe o homem como um ser composto de corpo e alma. O corpo, constituído de matéria, está sujeito às leis da physis e está em constante mudança. A alma (psykhé, princípio que move o homem) é imutável. Por estar unida ao corpo, a alma precisa se adaptar a ele. Nessa união, ela acaba assumindo três aspectos diferentes que, embora se complementem, se desenvolvem, e se manifestam em ritmo e intensidade desiguais, podem entrar em conflito entre si, às vezes. Assim, a alma do ser humano engloba três funções, cada uma delas associada a uma parte do corpo. Embora ela seja una e indivisível, manifesta-se como se fosse uma composição de três almas diferentes, objetos da psicologia aristotélica: 1) Elemento apetitivo ou concupiscente: no baixo ventre, com função de prazer, dor, desejo e das necessidades corporais (alimentação, repouso, sexualidade); 2) Elemento irascível: no tórax, com função de sentimentos (coragem, covardia, amor, ódio, etc.); 3) Elemento racional: na cabeça, com função de razão (faculdade ativa e superior, capaz de diferenciar o bem e o mal, a ilusão e a verdade). Essa concepção de alma é a base da ética platônica. A cada parte da alma, Platão ainda atribui uma virtude específica, acrescentando ainda uma quarta virtude, a Harmonia do conjunto: que é Justiça, o correto ordenamento das outras três virtudes, assegurando a cada parte da alma a realização de sua função, subordinando, mas não submetendo a Moderação à Fortaleza, e ambas à Prudência.
II – Concepção de alma (para Aristóteles): a matéria não possui nenhum movimento intrínseco. No entanto, encontramos na natureza seres animados, os quais possuem em si mesmos um princípio de movimento. Esse princípio é a alma. Ela é forma que organiza os seres animados. Aristóteles a define como “a alma é aquela coisa devido à qual vivemos, sentimos e pensamos”. Segundo a teoria formulada na obra Acerca da Alma, enquanto que em alguns seres a alma possui apenas uma função ligada à manutenção da vida, em outros, ela apresenta funções mais complexas. Fundamentalmente, a alma pode apresentar três funções distintas, que leva Aristóteles a falar de três partes da alma, ou mesmo de três almas: 1) a alma vegetativa: é o princípio que regula as atividades biológicas. Está presente em todos os seres vivos, plantas e animais, e inclusive no homem. É responsável pelos instintos, pelos impulsos, crescimento, nutrição e reprodução; 2) a alma sensitiva ou desiderativa: está presente somente nos animais, é responsável pelas sensações, pela percepção das peculiaridades dos objetos com os quais os animais entram em contato. Essa alma ainda coordena os movimentos corporais; 3) e a alma intelectiva ou pensante: que é uma exclusividade do ser humano. Ela é a capacidade de pensar discursivamente, de elaborar teorias e de pensar em explicações. É dela que deriva a capacidade de formular juízos sobre a realidade.
III - Comparações entre ambos: Verificamos que tanto Platão como Aristóteles compartilham o mesmo pensamento, de que a alma é um ser que se move por si. Entretanto, para Platão a alma é dotada de partes reais, no que, na concepção de Aristóteles, ela é dotada de unidade. Platão também admite a imortalidade da alma enquanto na teoria aristotélica a imortalidade é parcial. Segundo Aristóteles, diversamente de Platão, todo ser vivo tem uma só alma, ainda que haja nele funções diversas, faculdades diversas, porquanto se dão atos diversos. Assim, conforme Aristóteles, diversamente de Platão, o corpo humano não é obstáculo, mas instrumento da alma racional, que é forma do corpo. A teoria psicológica de Platão carece de todo valor científico, baseando-se no mito da preexistência das almas. Esta alma está presa ao corpo com uma união acidental, violenta e antinatural, sendo que o corpo é o túmulo da alma, decaída de uma vida feliz anterior. Já a psicologia aristotélica investiga sobre a alma, fixando-se em seus atos, dos quais deduz sua natureza e propriedades. Não considera a alma com coisa estranha ao corpo, senão que é seu princípio vital, unida a ele naturalmente como forma à sua matéria, de maneira substancial, constituindo um composto único e natural, que é a pessoa humana. Na questão de gênero e sua importância histórica, Aristóteles dizia que no homem havia inteligência na alma, capaz de aprender a essência de modo independente da condição orgânica. Já a mulher era considerada um ser incompleto, um meio-homem para Aristóteles. Na reprodução, ela seria passiva, ao passo que o homem seria ativo, aquele que semeia. A concepção de corpo como cadáver ou sepultura da alma advém do orfismo pitagórico, migra depois para Platão, e vai constituir a filosofia aristotélica. Embora Aristóteles elabore uma teoria da alma bem mais complexa que a de Platão, ele não chega a se desprender totalmente das bases estabelecidas pelo seu antigo mestre. Finalizando a questão, diria que muitos pensadores, desde os primórdios do pensamento humano, tentaram questionar o que vinha ser a alma, de onde vinha, para onde iria, mas somente Platão e Aristóteles conseguiram sistematizarem grandes teorias, ou mesmos sistemas, sobre a alma, que posteriormente, acabaram influenciando as concepções de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino e ainda, de forma mais geral, à questão das tensões aristotélicas e platônicas na psicologia que se faz presente até os tempos relativamente recentes.

A ATUALIDADE SOCIAL DO MARXISMO

Busco apoio num escrito de Mandel (1983), para dizer que a influência do pensamento de Karl Marx sobre a realidade social atual parece mais forte do que nunca. O marxismo sendo a unidade de dois movimentos, um teórico, outro prático, faz-se necessário um esforço para precisar a sua atualidade. Num primeiro aspecto – o da capacidade de análise e de previsão científico – é particularmente positivo. Marx compreendeu no seu tempo, a dinâmica grandiosa das revoluções tecnológicas inerentes do modo de produção capitalista, em função da propriedade privada, da economia de mercado, da concorrência e da sede insaciável que resulta da extorsão crescente da mais-valia do trabalho vivo a fim de acumular cada vez mais capital. Ele compreendeu que brotaria o monopólio, submetido a uma concorrência cada vez mais feroz, onde os pequenos sendo esmagados pelos grandes sem piedade. Também previu a ocorrência de crises econômicas e guerras, de custo humanitário incalculáveis. Num segundo aspecto – é o da prática – graças ao estímulo de Marx e seus seguidores a luta pela organização operária contra a burguesia, trouxe muita lucidez permitindo parcialmente um sentido emancipador, mencionando algumas conquistas: a luta pelo limite do dia e horas de trabalho; suprimir, pela atividade revolucionária, todas as condições sociais que fazem o ser humano um ser escravo, miserável, oprimido, explorado, criando uma sociedade na qual o livre desenvolvimento de cada indivíduo se torna a condição do desenvolvimento de todos. Embora esse projeto no seu conjunto ainda não se realizou em parte alguma, pode-se afirmar que sem Marx e Engels, o mundo teria sido bem diferente e muito mais desumano do que ele é.