domingo, 11 de setembro de 2011

BOI NA SOMBRA - Um equívoco de juízo de fato e de valor

O jornalista Túlio Milman comete enorme equívoco, ao justificar sua opinião em artigo de ZH, de que a Oficialidade Superior da Brigada (Coronéis) são um “boi na sombra”. A notícia faz sugerir à opinião pública de que vivemos nababescamente, com polpudos estipêndios recebidos do erário público. O que não é verdade. Ao contrário, todos sabem que nossa carreira sempre foi espartana, sofrida e mal remunerada. Sem nenhuma base factual ou parâmetro, conhecimento ou mais informação, que possibilitasse inteirar-se do que realmente “se passa” no nosso cotidiano, não soube o referido jornalista estabelecer uma correta diferenciação entre juízos de fato e juízos de valor.


Quem se aventura a emitir juízo de fato, apenas para “aparecer” no noticiário, não fica imune à críticas, ainda mais tratando-se de um profissional de imprensa. Quem diz o quer na mídia, (somente o juízo de sua percepção), portanto ilegítimo moralmente, pois não encontra consonância com os nossos valores mais caros, como costumes e crenças e tradições da Brigada Militar (juízos de valor), acaba ouvindo o que não quer ou não esperava, principalmente nas redes sociais.


O Milman deveria antes de publicar a matéria, verificar melhor as “fontes” desses juízos de valor pelos quais nos assentamos e nos consensos éticos e morais que forjaram e imprimiram nosso caráter na história do Rio Grande. Se quis nos desmoralizar ou não, o tiro saiu pela culatra. O efeito contrário dessa bobajada toda, pode bem significar um “surto” classista inédito aos nossos dilemas comuns, coisa da pós-modernidade, que pode modificar nosso marasmo e desesperança, pois foi “veneno” puro na nossa veia.


Para quem estudou um pouco de Ética, sabe que ela reflete sobre o comportamento humano sob o ponto de vista das noções do justo e do injusto, auxiliando em nosso agir diante dos desafios morais. Prefiro então, pensar que o jornalista Túlio Milman foi injusto conosco, tratando-se esse juízo, uma mera ação impensada, uma “inconveniência” de fato.


Um abraço do Bortoli.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

ACHO QUE SOMOS VÍTIMAS, SIM!

FRUTO DE UMA DEMOCRACIA AINDA IMPERFEITA


Graças a um manifesto assim tão instigante, trazido às luzes pelo nosso colega Coronel RR Otomar J. Kônig, postado no Blog da Frente dos Oficiais Superiores da BM em 19 de agosto de 2010, cuja leitura prévia é recomendada a todos, acabou configurando-se em uma ótima oportunidade, ainda que tardia, para fazermos uma boa reflexão sobre nossa relação com o momento de crise existencial, manifestada nas perplexidades éticas e comportamentais que vimos ampliarem-se, a cada dia nas instituições brasileiras. Há muita pertinência (valor) nas afirmações que o referido Oficial nos relata na sua inflexão, acerca do que aconteceu de “ruim” conosco nas últimas décadas. Apoiado em premissas filosóficas, tentarei contribuir para desvelar um pouco as questões levantadas. Inicialmente diria que está nos faltando uma fórmula geral de organização, que nos envolva numa perspectiva de conjunto. Seria algo parecido com aquilo que os filósofos pré-socráticos definiram como “arkhé” (princípio), capaz de agregar toda a multiplicidade de interesses das Associações de Classe da Brigada Militar em um amálgama único, inclusive na hora do sufrágio direto. Creio não ser uma tarefa fácil conciliar entidades com perfis tão díspares em um consenso comum. Será preciso muito entendimento e tolerância, ao contrário do que aconteceu, por ocasião do reajuste dos 19,9%. É duro admitir (mea-culpa) que não soubemos até hoje, interpretarmos a realidade à nossa volta ou atuarmos sobre ela, permitindo a entrada das mais variadas formas de manipulação nas nossas hostes. O governo militar disse que nos salvou do comunismo no seu longo período de mandato, todavia, com seu viés autoritário, acabou nos remetendo para um vácuo de pensamento e unificação de consciências, calando o nosso direito à subjetividade. Por sua vez, o poder político civil que assumiu o país com a dita ”redemocratização”, cresceu rápido demais, passando a nos dominar totalmente, levando-nos a realizar um projeto de vida que não escolhemos. Sem autonomia alguma, fomos incapazes de desenvolvermos de modo satisfatório, como os políticos souberam fazer com tanta maestria, e nem tampouco, construímos uma ética eficiente, que atendesse as nossas necessidades básicas e instrumentais. Com isso, nossa geração ficou estagnada, sem auto-estima, sofrendo na carne todo esse doloroso processo, e que ainda ameaça-nos, de gastarmos mais uma geração, aprisionados que ficamos nessa redoma perversa. Que fazer para mudarmos este desalento? Ora, teremos que nos reinventarmos de novo. Desta vez, mais pragmáticos e menos ilusórios, sopesando os erros cometidos, angariando musculatura e a força coletiva necessária, para criarmos estratégias que orientem um futuro mais decente aos integrantes da Corporação. Estas minhas razões, tem tudo a ver com a nossa justa luta pela sobrevivência e dignidade, pelo menos, levando em conta, o respeito e a boa-fé aos cidadãos de bem que realmente somos. E como profissionais de segurança pública, para além da falta de reconhecimento e desprestígio perante o status quo, entendo que já estamos pagando um preço caro demais. Sobre isto, já dizia o filósofo ateniense Sócrates (470-399 a.C) em sua dialética mordaz: “Ai daqueles que perdem a percepção ou o entendimento de sua própria alma”. Ele entendia a “alma” como a nossa atividade pensante e eticamente operante. É isso mesmo. Parece que não soubemos cuidar bem de nossa alma e a perdemos, pois tratemos de recuperá-la logo, meus amigos, pois ainda dá tempo. Um abraço do BORTOLI – Tenente Coronel da reserva e Acadêmico em Filosofia. (OBS: Este artigo foi escrito no final de 2010 e será proposto para publicação na nova Revista da ASOFBM ).